No segundo capítulo do Sutra do Lótus (Hoben ou Meios), o buda Shakyamuni levanta-se serenamente de sua meditação e começa a expor espontaneamente o Sutra do Lótus. Essa forma de pregar, em que o Buda expõe a Lei por iniciativa própria sem nenhuma indagação, é chamada de “pregação espontânea”. Ao contrário dos sutras anteriores que foram pregados de acordo com a capacidade das pessoas, o Sutra do Lótus é exposto “de acordo com o próprio desejo do Buda”. Nesse sutra, Shakyamuni revela a verdade diretamente, de acordo com a própria iluminação.
O mesmo ocorreu com o buda Nichiren Daishonin, que expôs o ensino do Nam-myoho-renge-kyo sem que ninguém tivesse pedido a ele. Em temos de prática budista, essa atitude indica o espírito espontâneo de enaltecer a Lei Mística com profundo reconhecimento de sua grandiosidade, sem levar em conta o que os outros disserem.
Shakyamuni inicia dizendo: “A sabedoria dos budas é infinitamente profunda e imensurável. O portal dessa sabedoria é difícil de compreender e de transpor. Nenhum dos homens de erudição ou de absorção é capaz de compreendê-la”.
A sabedoria do Buda é “profunda e imensurável” porque ela atinge a verdade fundamental da vida. Shakyamuni não está louvando a sabedoria dos budas para afirmar que somente o Buda é grandioso, mas, sim, que todos podem fazer com que a sabedoria do buda brilhe na própria vida e sejam felizes.
Nichiren Daishonin afirma que a “sabedoria significa Nam-myoho-renge-kyo”. Sendo assim, o Nam-myoho-renge-kyo contém a sabedoria infinitamente profunda e imensurável dos budas em sua totalidade. E o portal para chegar à sabedoria do Nam-myoho-renge-kyo é a fé.
Em seguida, Shakyamuni diz: “Qual é a razão disso? Um buda é aquele que serviu a centenas, a milhares, a dezenas de milhares, a incontáveis budas e executou um número incalculável de práticas religiosas. Ele se empenha corajosa e ininterruptamente e seu nome é universalmente conhecido. Um buda é aquele que compreendeu a Lei insondável e nunca antes revelada, pregando-a de acordo com a capacidade das pessoas, ainda que seja difícil compreender sua intenção.
“Sharihotsu [discípulo de Shakyamuni], desde que atingi a iluminação exponho meus ensinos utilizando várias histórias sobre relações causais, parábolas e inúmeros meios para conduzir e fazer com que renunciem aos seus apegos a desejos mundanos.
“Qual a razão disso? A razão está no fato de o Buda ser plenamente dotado dos meios e do paramita da sabedoria.
“Sharihotsu, o Buda é aquele que sabe como discernir e expor os ensinos habilmente. Suas palavras são ternas e gentis e podem alegrar o coração das pessoas. Sharihotsu, em síntese: o Buda compreendeu perfeitamente a Lei ilimitada, infinita e nunca antes revelada”.
Então, Shakyamuni se recusa a continuar pregando porque a Lei que o Buda revelou é a mais rara e mais difícil de compreender.
Ele afirma: “A essência real de todos os fenômenos somente pode ser compreendida e partilhada entre os budas. Essa realidade consiste de aparência, natureza, entidade, poder, influência, causa interna, relação, efeito latente, efeito manifesto e consistência do início ao fim”.
Sharihotsu, em nome da assembléia, suplica-lhe três vezes para que explique o significado de suas palavras até que o Buda concorda e diz: “Ouçam atentamente sobre o segredo do Buda e seus poderes místicos”.
Os cinco mil monges, monjas, monges, leigos e leigas presentes fizeram uma reverência ao Buda e retiraram-se. As raízes de suas ofensas eram profundas, graves. Devido à sua arrogância, eles eram incapazes de entender o ensino que o Buda iria pregar.
O Buda diz a Sharihotsu: “Uma Lei maravilhosa como esta é pregada somente ocasionalmente pelos budas, os tathagatas, assim como a flor de udumbara aparece somente uma vez num grande período de tempo”.
Shakyamuni esclarece que os budas aparecem no mundo manchado pelas cinco impurezas (do kalpa [tempo], da aflição, dos seres viventes, da visão, e da vida) para despertar e conduzir as pessoas para a Lei Mística. Nesse mundo, os seres viventes são miseráveis, ambiciosos, invejosos e ciumentos.
“Sharihotsu, todos vocês deveriam, com pensamento único, entender, compreender, aceitar e manter as palavras do Buda, porque nas palavras de todos os budas não há nada em vão ou falso. Não há outros veículos; há somente o Veículo Único do Buda” — admoesta o Buda no fim deste capítulo.
Ao contrário da época de Shakyamuni — em que havia a necessidade de se praticar por incontáveis existências para atingir a iluminação — na era atual denominada de Os Últimos Dias da Lei, todas as pessoas podem alcançar essa condição máxima e evideniar os benefícios advindos da prática budista por meio da recitação do Nam-myoho-renge-kyo, revelado por Nichiren Daishonin.
Por meio da recitação do daimoku, as pessoas manifestam os atributos de um buda como benevolência, ilimitada eloquência, poder, coragem, concentração, liberdade para conduzir a própria vida com sabedoria, ajudando os outros também a obter essa mesma elevada condição de vida.
Com essa prática simples e acessível, todas as pessoas, independentemente da nacionalidade ou condição social, conseguem transformar o ambiente, tornando-o um local onde as pessoas vivem felizes e tranquilas.