Prezado Sr. Daisaku Ikeda, temas como a existência de almas e o mundo pós-morte, e as doutrinas religiosas relacionadas a estes assuntos vêm sendo repetidamente criticados pelas pessoas que têm inclinação para o pensamento racional como sendo incompatível com a visão científica do mundo. Por outro lado, o budismo mantém desde o seu início o conceito de não se aventurar a fazer menção sobre questões como estas. O pensamento fundamental do Buda deve ter sido o de “não dar nenhuma resposta” a questões como alma e o mundo pós-morte.
Parece-me que, a partir da visão científica do mundo, o pensamento padrão básico do budismo seja algo a ser concordado inicialmente. Quem sabe o fato dos cientistas de vanguarda sentirem simpatia aos pensamentos budistas tenha relação com esta forma do budismo se posicionar. Para a ciência, não há alternativa senão manter o silêncio em relação à alma e ao mundo pós-morte.
Por outro lado, a partir da posição das pessoas simples que vivem o dia a dia, persistir nessa forma de abordar do budismo seja, em alguns momentos, uma postura fria e insensível. “Pode ser qualquer coisa, o que quero é ser salvo dos sofrimentos deste mundo, mostre-me a direção: ‘será salvo se fizer assim’”, “Quero que me garanta que o paraíso me aguarda após a minha morte” — perante estes desejos dolorosos de uma pessoa, os cientistas são confiáveis intelectualmente, mas é muito difícil se tornarem confiáveis no sentindo emocional.
O bonzo Zen Jikisai Minami realizou longos anos de prática no (templo) Eihei-ji, sendo obviamente uma pessoa que tem pleno domínio do budismo. Numa ocasião, foi consultado por uma senhora idosa: “Reverendo, será que irei ao céu quando eu morrer?” O Sr. Minami respondeu: “É claro, se alguém como a vovó, que passou por tantas dificuldades não puder ir ao céu, quem poderá ir?”
Desejo perguntar ao Sr. Daisaku Ikeda, que está há longos anos na posição de liderança da maior organização leiga de budistas no Japão, e que veio acumulando diálogos com intelectuais de diversos países do mundo:
Na fronteira do conhecimento atual da humanidade, qual é o papel que cumprem e podem vir a cumprir as religiões, a começar pelo budismo? Que relação há entre persistir na sincera dedicação da busca intelectual e a questão de salvar as pessoas que vivem o dia-a-dia das suas dificuldades e sofrimentos? Ficarei feliz se me ensinar mesmo que uma fração do seu pensamento.O que é de suma importância para superar e vencer o dogmatismo e o fundamentalismo que rasga a humanidade? Mais do que qualquer outra coisa, é o diálogo aberto. O diálogo, o oposto da violência, começa a partir da superação de todas as diferenças — é um olhar sobre o outro como um indivíduo dotado da mesma dignidade. O papel a ser cumprido pela religião na linha de frente do conhecimento do século 21 não é outro senão transpor os grupos religiosos, unir a humanidade por meio do diálogo e contribuir para a paz. Eu vim expandindo o diálogo pelo mundo com esta convicção.
Junto com isso, não será a educação a força que liderará as religiões para a direção correta, sem deixá-las caírem na fatuidade, egoísmo, hipocrisia e fé cega? A sabedoria desenvolvida pela educação e pelo estudo liberta o coração das pessoas do preconceito, do ódio e a da violência fanática.
O professor Hajime Nakamura, estudioso do budismo, disse: “Há coisas que ainda não sabemos, mesmo tendo o conhecimento da avançada ciência natural da atualidade. Nós também morreremos mesmo que discutamos os assuntos que não podemos solucionar. Em vez disso, para as pessoas que vivem o aqui e o agora, o mais importante é viver da melhor forma”. A mensagem que o Sr. Mogi lança a partir de diversos planos, contém, junto com os princípios científicos universais, indicações da sabedoria para vencer a realidade com um coração transbordante. É de fato um novo desbravar que extrai “a força que origina a emersão a partir do perigo”, e tenho profunda simpatia.