Discurso do presidente Ikeda adaptado do livro Explanação Sobre Atingir o Estado de Buda nesta Existência, publicado em português em julho de 2012.
O presidente Ikeda salienta que, para efetuarmos uma transformação grandiosa em nossa vida, é importante não sermos governados pela fraca natureza de nossa mente, que muda constantemente, mas apoderar-se dela, buscando um mestre que atue como uma segura bússola espiritual.A mente pode gerar um estado de vida de imensa alegria, como se estivéssemos voando livremente, sem esforço algum, pelo vasto céu azul. Pode emanar uma compaixão comparável à luz do sol claro e radiante, que a tudo ilumina, e abraçar calorosamente aqueles que estão sofrendo. Pode tremer de raiva justificada, subjugando o mal e a injustiça com a coragem e ferocidade de um leão. A mente muda constantemente, como um enredo que sempre apresenta novas surpresas ou um cenário que sempre se inova.
O que há de mais maravilhoso no que diz respeito à mente é o fato de ela manifestar o estado de buda. Mesmo as pessoas acossadas pela mais intensa ilusão e sofrimento podem ativar, nas profundezas de sua vida, o estado de buda, que é uno com o universo. Essa importante epopeia de transformações constitui, efetivamente, o maior de todos os prodígios.
O budismo reconhece a suprema nobreza e o potencial para uma extraordinária transformação inerentes à vida de todas as pessoas. Com base nesse fato, Nichiren Daishonin ensinou que, aprimorando totalmente sua vida por meio da recitação do Nam-myoho-renge-kyo, qualquer um — por mais que esteja mergulhado na ignorância ou ilusão – pode revelar seu estado de buda e transformar numa terra pura até mesmo o local mais maléfico e maculado.
E é por isso que, por meio da recitação do Nam-myoho-renge-kyo, podemos lustrar o espelho embaçado da “mente que se encontra encoberta pela ilusão da escuridão inata da vida” tornando-o “um espelho límpido, que refletirá a natureza essencial dos fenômenos e da realidade, e, desse modo, revelar nossa natureza de buda interior. Em outras palavras, podemos manifestar a “verdade mística inerente” e acessar o potencial infinito que reside dentro de nós.
Myoho-renge-kyo é a Lei inerente à nossa vida. A transformação interna de momento a momento que efetuamos mediante a recitação do Nam-myoho-renge-kyo acarreta não somente uma mudança fundamental em nossa mentalidade, mas no nosso modo de vida como um todo, colocando-nos no rumo da consecução do estado de buda nesta existência. Além disso, gera uma onda de grande transformação de toda a humanidade chamada kosen-rufu. Myoho-renge-kyo é o pulsar dinâmico da mudança em todas as esferas.
O fato de o Myoho-renge-kyo ser a Lei inerente à nossa vida suscita outra questão a ser considerada: ou seja, a relação entre a mente da ilusão — uma mente encoberta pela escuridão inata – e a mente da iluminação, ou “myo” — uma mente iluminada pela natureza essencial dos fenômenos e pelo verdadeiro aspecto da realidade.
Se simplesmente seguirmos nossa mente não iluminada, facilmente influenciável, nosso potencial definhará rapidamente. Ou pior, podemos ceder a impulsos negativos e destrutivos. Essa é a natureza sutil dos trabalhos da mente.
Como nossa mente é a chave para atingirmos o estado de buda nesta existência, precisamos vencer nossas próprias fraquezas internas e é justamente nessa circunstância que atua nossa prática budista.
A mente iludida das pessoas comuns está sempre vacilando. Não devemos tomar essa mente, que muda e se altera constantemente, como base ou guia. É esse o significado da famosa passagem do sutra: “Devemos ser mestres de nossa mente em vez de permitir que ela nos domine”.
Daishonin cita esse trecho referente a se tornar mestre da mente em várias partes de suas escrituras, fornecendo uma importante diretriz para seus seguidores. Tornar-se mestre da própria mente significa possuir uma sólida bússola na vida e o luminoso farol da fé.
Não devemos nos deixar dominar pela nossa mente não iluminada que muda conforme as circunstâncias. Necessitamos de um mestre para ajudar a guiá-la na direção certa. Nesse sentido, os verdadeiros mestres da mente são a Lei budista e os ensinamentos do buda. Shakyamuni jurou fazer da Lei à qual havia se iluminado o mestre ou guia de sua mente, e orgulhava-se de viver de modo fiel a esse juramento. Esse é o significado de viver “confiando na Lei”, salientado por Shakyamuni em sua derradeira injunção a seus discípulos antes de morrer.
Permitir que a nossa mente nos domine consiste em adotar a nós próprios e nossos impulsos egoístas como alicerce. No fim, nossa mente instável nos atirará de um lado para outro, sucumbiremos ao egoísmo e mergulharemos nas profundezas da escuridão ou ignorância.
De maneira inversa, dominar a nossa mente indica adotar a Lei como nossa base.
Um mestre no budismo é alguém que conduz e conecta as pessoas à Lei, ensinando-lhes que a Lei com a qual elas devem contar existe dentro da própria vida. Os discípulos, por sua vez, buscam o mestre que incorpora e é uno com a Lei. Mirando-se no mestre como modelo, eles se empenham na prática budista. Dessa forma, abraçam um modo de vida que os habilita a dominar a mente.
Para se atingir o estado de buda nesta existência, é indispensável que haja um mestre — aquele que incorpora e vive de acordo com a Lei e ensina às pessoas sobre o vasto potencial interior que elas possuem.
Sou o que sou hoje por causa de meu mestre, o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, que praticou conforme os ensinamentos do Buda e dedicou a vida à ampla propagação do Budismo de Nichiren Daishonin na época atual. O Sr. Toda está sempre comigo, como meu mestre espiritual. Ainda continuo mantendo um diálogo com ele em meu coração a todo instante. Esse é o espírito de unicidade de mestre e discípulo.
Aqueles que sempre mantêm firmemente seu mestre espiritual como um modelo e bússola e se esforçam conforme esse mestre ensina são os que vivem com base na Lei. O Budismo de Nichiren Daishonin é um ensinamento fundamentado na unicidade de mestre e discípulo.